O índio Takire Kayapó acompanhou familiares que foram tirar os documentos e aproveitou para solicitar a sua carteira de trabalho.

(Agência Pará de Notícias)

Há cerca de três anos, a dona de casa Analice Barros, 59 anos, teve a casa, no município de Ourilândia do Norte, sudeste paraense, invadida por bandidos enquanto estava fora com a família. Além do prejuízo material e emocional, ela ainda teve documentos pessoais rasurados pelos criminosos. “Imagino que eles pensavam que eu tinha dinheiro em casa. Como não encontraram, resolveram se vingar riscando os meus documentos, principalmente a minha certidão de nascimento, que ficou imprestável”, contou.

Depois de tanto tempo sem a certidão, a dona de casa aproveitou este domingo (14) para resolver o problema na Caravana Pro Paz Cidadania, que está levando, desde o dia 17 de junho, serviços de emissão de documentos e atendimento jurídico à população do sul e sudeste do Pará. Em Ourilândia, a ação ocorreu na Escola Municipal Madre Teresinha de Jesus, das 8 às 17 horas, com o apoio da prefeitura local. Ao todo, foram feitos 1.562 atendimentos, entre 474 emissões de carteiras de identidade; 247 carteiras de trabalho; 448 fotografias; 40 certidões de nascimento; 278 CPFs e 75 atendimentos jurídicos.

Segundo Analice, a ação – que envolve diversos órgãos do governo do Estado, como as secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e de Assistência Social (Seas), Defensoria Pública e Polícia Civil – foi providencial. “Esse tipo de iniciativa é muito importante, pois pessoas como eu, que não têm condições financeiras de pagar por uma segunda via de documento, podem ter os seus problemas solucionados. Agora, estou feliz porque sei que vou sair daqui com a minha certidão nova”, comemorou.

O mesmo sentimento teve o jovem operador Wesley Ferreira, 18 anos. Pai de primeira viagem, ele estava ansioso para ter em mãos o registro de nascimento do pequeno Miguel, de apenas um mês e 20 dias de vida. “Não estava conseguindo ir ao cartório da cidade, por conta de burocracias e outros problemas. Hoje, vim aqui e tudo foi resolvido rapidamente. Agora, o Miguel já é um cidadão brasileiro e pode, por exemplo, fazer uma consulta médica que está precisando”, disse.

Segundo o prefeito do município, Maurílio Cunha, Ourilândia do Norte tem, segundo o último censo populacional, cerca de 30 mil habitantes, que podem chegar a 40 mil se for acrescida a esse dado a população flutuante, que trabalha, fundamentalmente, na extração e processamento de minérios, sobretudo do níquel (a cidade conta, inclusive, com uma siderúrgica) e agricultura, de lavouras como cacau, pecuária leiteira e de corte. Cerca de 86% do território do município, no entanto, correspondem a reservas indígenas, o que torna reduzida a área destinada à atividade agrícola.

Para o gestor municipal, a Caravana Pro Paz demonstra o compromisso do Governo do Pará com todos os municípios do Estado. “Estamos a quase mil quilômetros da capital, o que dificulta muito esse tipo de serviço. Por isso, agradecemos ao governo do Estado por se fazer presente e auxiliar a comunidade local”, ressaltou.

O índio Takire Kayapó é morador da aldeia Aukre e fez questão de acompanhar alguns familiares mais jovens à sede da cidade, onde puderam retirar seus documentos durante a caravana Pro Paz. “Hoje, todos precisamos dos nossos documentos para trabalhar, estudar e ter atendimento médico. Então, eu incentivei muita gente do meu povo a vir até aqui e participar”, destacou.

Quem também decidiu aproveitar a oportunidade para resolver uma pendência dolorosa, mas necessária, foi o aposentado Ezequiel de Souza, de 45 anos. Há nove anos, ele perdeu a esposa, no município de Teresina, Piauí. Ela havia ido para lá para se tratar de um câncer de mama junto com familiares. Acabou falecendo e, sem condições de ir até o Estado vizinho para acompanhar o funeral da mulher e tomar as providências cabíveis, Ezequiel se viu, até hoje, sem o atestado de óbito da esposa.

Na Caravana Pro Paz, graças ao trabalho da Defensoria Pública, ele finalmente conseguiu obter o documento. “Ter esse atestado é muito importante para mim porque tive dois filhos menores com ela e preciso para resolver questões das crianças. Se não fosse essa atividade aqui na cidade, nem sei quando iria conseguir”, frisou. A próxima cidade a receber a Caravana Pro Paz é Água Azul do Norte, onde a ação ocorre nesta terça-feira (16). 

Texto:
Elck Oliveira - Secom